solos

Trovas (2019/2020)

Trovas um solo de dança em três capítulos. Em cada episódio mitos da cultura lusitana são revisitados expondo tensões com outras culturas, relacionadas ao processo colonial e a complexa expansão marítima, abrindo o corpo da interprete para lidar com contradições e afetos que marcam seu corpo no encontro com ancestralidades e questionamentos históricos. Seres endiabrados, animais campestres, sereias, navegantes, monstros marinhos, velhas senhoras e estrangeiros são figuras que emergem no corpo da bailarina, que como uma trovadora narra com sua danças atos de paixão e desventura.

Esse projeto através de Residências Artísticas nos seguintes espaços: Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo (2019), Escola Livre de Dança de Santo André (2019), Polo Cultural das Gaivotas-Boavista – Câmara Municipal de Lisboa (2020), LARGO Residências de Lisboa (2020).
Projeto Contemplado com o Premio por Histórico de Realização em Dança na Cidade de São Bernardo do Campo, recebendo recursos da Lei Emergencial Aldir Blanc (2020/2021).

Aquário (2020)

Videodanca concebido na residência do 15o Festival ABCDança (co-produção da cia de Danças de Diadema e Sescs Santo André e São Caetano).

Uma dança que observa que civilizações antigas já construíam tanques artificiais para a criação de peixes há milhares de anos. Sumérios, chineses, egípcios, babilónios e gregos foram alguns dos povos que aprisionaram seres marinhos, longe de seu habitat. O conceito de aquário como um espaço cristalino para a observação de peixes, entretanto, data do século XIX, criação de uma mulher, das primeiras cientistas. Tal modernidade do feito não explica como o mito grego de Ganimedes [o belo homem que verte água para fora de uma ânfora sagrada sobre o chamado Mar da Via Láctea onde se encontram as constelações de Capricórnio, Escorpião e Peixes, entre outros seres marinhos], fora associado a constelação de Aquarius ou Aguadouro, assim nomeada no Império Romano. Será que foi astronômica ou celestial a inspiração para a criação desses observatórios de seres que os humanos teimaram em inventar nos últimos séculos? Será que confinados e expostos em telas, como estamos nesse momento, não estamos vivendo a reinvenção dos zoológicos humanos nisso que se chamam social medias, com o diferencial do auto-aprisionamento? Será que o que se vê de cada um, ainda remete a imensidão ancestral do que também somos? Memória de Futuro… Eu só queria nadar no Oceano de novo…

Co – performance para Escadas (2010/12)

Co é uma performance de dança que parte da ação cotidiana de subir escadas, subvertendo-a e transformando o deslocamento do corpo num rolamento continuo através dos degraus. A movimentação extra cotidiana constrói seu sentido ao poetizar e refletir sobre as relações de utilização de espaços de passagem na dinâmica da cidade. A movimentação responde a relação do corpo com o ambiente e a coreografia dialoga com a ação do transeunte – que opera como instaurador do acaso que organiza as ações no tempo. Em Co o corpo se integra à paisagem a partir da criação de uma corporeidade articulada, dobrável e angulosa, que harmoniza-se com a proposição de espaço da própria arquitetura do local propondo um uníssono entre corpo e ambiente. A repetição do padrão dobrável presente nos degraus reverbera na movimentação do corpo que segue numa ascendência continua se dobrando e articulando através da superfície do chão da escada. Assim, o movimento do corpo vai camuflando-o na paisagem urbana, criando um panorama onírico e ao mesmo tempo gerador de um estranhamento a partir da formação de imagens corporais que borram a leitura do corpo entre as noções de humano ou inumano.
Essa criação foi contemplada com os Apoios Pontuais Transdisciplinares da DGArtes – Direção Geral das Artes do Ministério da Cultura de Portugal, e teve sua estreia no Festival Urbano Pedras d’Água, produzido pelo c.e.m – centro em movimento de Lisboa.

Short Fleeting Moods (2007/08)

Coleção de videodanças criados para banda sonora concebida pelo musico Luís Costa (Lisboa/PT) a partir de um processo de trocas, no qual por vez o musico enviava uma canção a partir do qual a bailarina criava coreografias, e em outros momentos, a bailarina enviava videos sem som para os quais o músico compunha. Do resultado dessas trocas, um EP foi lançado por Luís de forma independente em Portugal, e um filme com os videodanças foi exposto por Paula na mostra 7 Paralelos no Salão de Arte Contemporânea de Santo André.

Trovas gera uma aula-performance que destrincha o estudo corporal que é ponto de partida desse trabalho. Essa aula chamada de Musculatura Atlântica expõe uma história pessoal da dança, onde relações entre danças portuguesas, angolanas e brasileiras se estabelecem expondo a reverberação do arco colonizatório nos dias correntes, nos corpos dançantes – sobretudo em contexto festivo e popular.  Musculatura Atlântica é um mapa biográfico e de afetos que vai do bate-pé ao bate-bunda, devaneando sobre danças portuguesas, africanas e brasileiras e esbarrando em muitos apetites e monstruosidades que envolvem o exercício da vilania, a invocação menos romântica do mundo dos antepassados, o reconhecimento visceral do outro – ao descobrir-se o outro, a travessia de mares, a colonização, as expropriacões, as misturas, a maquina de parir bastardos, o dar a luz a dezenas de filhos, minha vó, minha bisa, empoderamento feminino, minha bunda minhas regras, mulher no mundo, imigrante, Sindrome de Estocolmo, mímese insurgente, um bigode é um tesouro, devaneios de monstros marinhos, carrancas e outros elementos de um corpo fabular e viajante.